Flores para Mestra Lúcia


por Christiano Barros

“Quando ouço o toque da corneta
Que o povo chega para embarcar
A despedida de nossa Baiana
Adeus Alagoana
Até quando eu voltar...”

No dia 29 de agosto, na Praça Santa Tereza (Vergel do Lago), Dona Lúcia, ou Marluce como era conhecida pelas amigas de seu baianá, recebia merecida homenagem. Estava muito contente, parecia estar em casa em meio aos componentes dos diversos grupos de cultura popular que se apresentaram na praça durante o encerramento do seminário Múltiplos Olhares sobre a Cultura Popular, no Agosto Popular. Ela, em cadeira de rodas, se movimentava atenta as apresentações. O marido explicou pra gente que preferia que ela recebesse a homenagem logo porque iria ficar pouco tempo, mas Dona Lúcia preferiu ficar até o final. E durante a homenagem ela não conteve a emoção e chorou. Dona Marlene e Dona Edna, companheiras do baianá, também acompanhavam emocionadas.

Dona Lúcia morreu nesta segunda-feira (25/10). Não resistiu a mais uma operação de amputação de parte de sua perna. Teve complicações durante a operação e veio a falecer em um hospital em Coruripe.

Ela tinha uma voz firme e uma imensa força de vontade. O Baianá que comandava, Flor de Lis do Santo Eduardo, representou Alagoas na tradicional Festa da Lavadeira, no município de Santo Agostinho (PE). Apesar da dificuldade de locomoção e da saúde frágil, durante a Festa ela era uma das mais empolgada. Lembro que foi uma longa caminhada até chegar ao município pernambucano. Saímos de Maceió, nas primeiras horas da manhã, embaixo de chuvas torrenciais e desembarcamos sob um sol escaldante na Praia do Paiva. Pouco tempo depois, em cortejo, seguimos por entre uma multidão de gente que participava da Festa até subir ao imenso palco montado na Praia. Não existia cansaço e o Baianá mostrou ao povo de lá a força, o ritmo e as cores de nossa tradição. Encantou. Atordoado, quase que eu não conseguia fotografar. Muita gente acompanhava a apresentação. E, no final, quando ela descia do palco uma pessoa que assistia atenta ao baianá pegou na mão de Dona Marluce e disse: “Minha Preta, essa coroa aí não é pra qualquer um não. Você merece! Parabéns...”. Dona Lúcia agradeceu o elogio e, contente, desceu do palco junto com seu baianá.

Na manhã de terça (26/10), no cemitério do Jaraguá, os parentes e amigos mais próximos que acompanhavam o enterro cantaram músicas do baianá para se despedir enquanto o caixão era coberto de terra.

Mestra Lúcia era uma pessoa especial, viverá pra sempre em nossa memória.




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