Tia Marcelina





Ela tinha o saber, o carisma e a voz viva dos Orixás segundo os líderes atuais do Candomblé alagoano, sendo contemplada com a coroa de Dadá, homenagem outorgada pelos oráculos do continente africano, era o posto mais alto da hierarquia religiosa africana no Brasil e que significa na liturgia africana “irmão mais novo de Xangô”. O seu terreiro estava situado num pequeno sítio no centro da cidade, onde se cultuavam os Orixás e o som do maracatu. Hoje entende-se que o local ficava nos arredores da Praça Sinimbú.

Tia Marcelina foi morta durante um dos maiores atos de intolerância religiosa contra as casas de culto afrobrasileiras: O Quebra de Xangô, ocorrido em 1912 em Alagoas. No dia 1º de fevereiro de 1912, Babalorixás e Yalorixás tiveram seus terreiros invadidos por uma milícia denominada Liga dos Republicanos Combatentes, seguida por uma multidão enfurecida, que assistiu a retirada forçada de seus objetos de culto sagrados, que em seguida foram expostos e queimados em praça pública numa demonstração de racismo, preconceito e intolerância religiosa para com as manifestações culturais de matriz africana.

O "Quebra" chegou ao terreiro de Tia Marcelina, mas ela não arredou o pé. Alguns filhos de santo conseguiram escapar. Os que permaneceram com a Mãe de Santo sofreram todo tipo de violência. Tia Marcelina resistiu com dignidade aos golpes físicos e emocionais que recebeu. Contam que a cada chute recebido, ela clamava por Xangô, "Eiô, Cabecinha" e no outro dia, a perna do agressor foi secando, até que ele mesmo secou por completo.

Tia Marcelina faleceu e deixou na história sua força e resistência, se tornando um dos símbolos mais fortes de resistência afrobrasileira do País.
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O Cortejo Tia Marcelina saiu pela primeira vez em 2010 através da produção do Coletivo AfroCaeté e seus parceiros com o intuito de homenagear esse símbolo da nossa cultura. Sendo, também, um meio de resistência.

Diferente dos blocos tradicionais, com as já conhecidas fantasias e as marchinhas de carnaval, o Cortejo Tia Marcelina traz para o Jaraguá dos dias atuais o toque dos tambores que não se calaram e as músicas e trajes que contam histórias de luta e de fé do povo alagoano.
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